18 anos ao serviço do Desporto em Portugal

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David Maia

 
Como e onde iniciou a modalidade? O que o levou a optar pela modalidade?
Iniciei a modalidade em 1978 no CD Arroios. Clube que a minha avó frequentava para ver televisão enquanto eu observava os treinos de Luta Olímpica.
Escolhi a modalidade porque gostava de ver os treinos e talvez tenha tomado essa opção porque não tinha oportunidade de experimentar outras modalidades.
Descreva um pouco a sua carreira como Atleta.
Como disse comecei a minha carreira no CDA onde cresci e aprendi a dar os primeiros passos na modalidade, passados 6 anos fui para o futebol onde pratiquei dois anos e regressei à Luta Olímpica representando a Junta de Freguesia de S. Paulo onde fiquei uma época. Depois mudei-me para o SL Benfica onde fui campeão por equipas durante 2 anos e depois foi representar o Sporting CP onde também fui campeão nacional de equipas. Terminei a carreira no ano 2000 representando o Casa Pia AC onde agora sou treinador.

Que títulos obteve como Atleta?
Sei que fui campeão nacional em todos os escalões mas não tenho a certeza da quantidade de vezes que fui mas sei que fui muitas vezes e venci alguns torneios internacionais.

Foi um dos poucos atletas que foi aos Jogos Olímpicos, exprime o seu sentimento. Dá-nos uma ideia como é estar nos Jogos Olímpicos?
Não é fácil ser o único representante português nos JO numa modalidade. É claro que é motivo de grande orgulho mas a falta de colegas de equipa faz muita diferença. Dos momentos mais marcantes dos JO é entrar no magnífico estádio juntamente com todos os países e esse momento eu não experimentei porque tinha a competição no dia seguinte.

Que cargos desempenhou na Luta?
Bom, todos nós familiares desta modalidade sabemos que sendo treinador temos de desempenhar todos os papeis inerentes a uma secção desportiva, quero dizer com isto que de lutador a treinador e dirigente, tenho desempenhado muitas funções.

Que futuro prevê para a Luta?
Com a quantidade de treinadores e dirigentes afastados não sei bem porquê, é-me difícil prever um futuro risonho. Se por acaso houvesse um regresso dessas pessoas à modalidade estou em crer que a Luta Olímpica dava um grande salto em todos os sentidos. É sobretudo pela falta de gente que não temos melhores clubes, melhores lutadores, melhores treinadores etc.

Como treinador, que atletas descreve como sendo os melhores?
Os melhores lutadores são aqueles que têm muita ambição, que ouvem e seguem os conselhos dos treinadores. São os que têm muita coragem e vontade de vencer. Prefiro um lutador que não seja muito talentoso em termos técnicos mas que seja muito forte em termos psicológicos.

Está a fazer imenso sucesso na Casa Pia, há quem devolve esse mérito?
Considerando o tipo de alunos que tenho na casa pia creio que a base deste sucesso está no empenho e dedicação. Mas para falar a verdade ainda estamos muito longe do que poderia ser uma equipa verdadeira dentro da Casa Pia. Sinto-me muito só apesar de todo o apoio que o meu clube me dá.

Como descreve a Casa Pia? Como Instituição Social e Desportiva.
Creio que a Casa Pia tem excelentes condições para ser uma das melhores escolas do país se não da Europa. Creio que não vamos mais longe porque não há o reconhecimento aos alunos que treinam e se dedicam a determinada actividade. Acho que os alunos que se dedicam que trabalham com o objectivo de aprender algo devem ser reconhecidos pelo seu trabalho. A Casa Pia está a desempenhar bem o seu papel, oferecendo aos seus alunos várias opções para as suas vidas dando boas condições para um jovem poder estudar e ter uma ferramenta de trabalho para o mundo lá fora.

Sabe-se que estas instituições são uma mina de grandes atletas, porque?
Para falar a verdade não estou de acordo com essa afirmação. A chamada “mina” não é real no meu colégio, em primeiro lugar porque não existem assim tantos alunos, apenas existem cerca de 500 alunos e os que estão dispostos a aprender e a praticar desporto são muito poucos. Ano após ano tenho notado um decréscimo no número de alunos interessados a praticar a modalidade. Em segundo lugar porque estes alunos não têm nenhum exemplo na família ou alguém que lhes incuta o prazer da prática desportiva.
Se repararem, o número de alunos com mais de 5 anos na modalidade é extremamente reduzido.

Os seus atletas aspiram chegar ao topo?
A prática da luta para a maioria dos alunos é apenas por passagem, podemos até dizer divertimento, todos eles vêm de famílias complicadas e quando chegam ao escalão de juniores são forçados a abandonar devido à situação familiar. O Ruben foi dos lutadores que esteve perto de fazer carreira, mas, a sua motivação quebrou quando se apercebeu que não poderia ter o apoio suficiente para sonhar em um dia vir a representar o nosso país nos JO.
O Ruben não teve o apoio dos pais como uma criança normal nem exemplos familiares, como tal teve de ir trabalhar e apoiar a sua família. Esta é que é a realidade dos alunos da Casa Pia de Lisboa. Como tal o meu trabalho é apenas ensinar uma modalidade e formar homens.

Ter um atleta como o Hugo Passos numa equipa é algo positivo, como os jovens vêem esse exemplo?
Só os jovens lutadores é que sabem quem é o Hugo, mais uma vez creio que a instituição poderia aproveitar para promover o desporto na instituição. Infelizmente, o Hugo não treina no seu clube e os mais jovens apenas o vêem nas competições.

Algum dia, veremos um dos seus atletas a subir a um Podium Internacional?
Essa situação já aconteceu por várias vezes se falarmos das selecções nacionais ou até do meu clube. O Ruben, há uns anos venceu 3 medalhas em torneios internacionais tanto nos escalões de juniores como de seniores, e o Manuel Almeida, Hugo Passos, Ricardo Salvado, Alberto Medina entre outros já venceram medalhas internacionais. Mas se falarmos a nível de Campeonatos da Europeus ou Mundiais, as coisas mudam de figura, será extremamente difícil devido à falta de competição interna que existe no nosso país, mas também posso dizer que este ano se as coisas correrem bem os lutadores Samuel Pedro e João Carvalho poderão conquistar uma medalha no europeu de cadetes.

Além de David Maia e Hugo Passos, será que está para breve outra participação de um vosso atleta nas grandes competições? E nos Jogos Olímpicos?
Talvez sim, mas tudo tem a ver com o apoio que os lutadores tiverem para poderem investir nas suas carreiras.

Consideramos a Casa Pia o melhor clube actualmente, como e ganhar dois anos seguidos as mesmas competições (Campeonato Nacional, Taça de Portugal e Supertaça)?
Tão simples quanto isto, o CPAC não é uma equipa exemplar, vai vencendo os campeonatos porque tem lutadores que apenas treinam durante umas semanas para determinada competição. O que acontece é que não há clubes com uma equipa seria e empenhada em vencer os campeonatos. Creio que os prémios em jogo não motivam nem dirigentes nem lutadores para trabalharem com esse objectivo.

Vemo-lo muitas vezes a falar para a televisão e nunca menosprezou uma equipa adversária, mas sente que falta algo as equipas, o que falta?
É natural, sei que todos os nossos adversários fazem um esforço para criarem uma equipa e sem o empenho de todos não haveria campeonatos por equipas. Talvez seja essa uma das razões porque tenho tanta consideração por todas as equipas da nossa modalidade.

A Luta é um desporto pouco divulgado a nível nacional, porque é que isso acontece?
A FPLA tem feito muitos esforços para que os campeonatos sejam televisionados, no entanto, creio que devia de haver uma equipa que trabalhasse para efeitos de divulgação, quer nos clubes quer nas escolas. Os trabalhos desempenhados pelos DTNs não têm sido suficientes para uma boa divulgação.
O que deve melhorar na Luta?
Bom, a Luta em si nada tem de mudar, creio que a grande mudança está na enorme falta de cultura desportiva que todos os nossos políticos e dirigentes têm em relação ao desporto especialmente à Luta Olímpica.
A Luta Olímpica tem à partida um grande problema e esse problema está no nome. A palavra “Luta” assusta as pessoas, que imaginam logo que se trata de uma modalidade de grande perigo e super violenta.

Qual é para si a melhor prova realizada pelos clubes?
Para mim só houve uma grande prova e essa até foi internacional, o TIS. Apesar de estar em grande parte entregue a uma pessoa a qual tive o cuidado de dar os parabéns (Fernando Carreira), a competição teve muito bem em termos gerais.

Obrigado David Maia pelo tempo disponibilizado e por ter respondido a estas perguntas de um modo aberto e sincero.
 

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024 – 20:39:46

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