Sob o signo da Lagoa da Vela

 
Apesar de nos encontrarmos sob o signo de Capricórnio, não foi decididamente a sua influência, que inspirou os atletas presentes no IV Troféu Mondego. No que me diz respeito, os assuntos de astrologia, horóscopos, zodíacos e quejandos, não bulem nem um bocadinho com o meu estado de espírito.

Agora, uma paisagem paradisíaca, num ambiente sereno, como aquele que nos ofereceram, nas margens de águas calmas da Lagoa da Vela, em Quiaios, esse sim, é um cenário que inebria e nos deixa com vontade de cometer feitos gloriosos.

Quiaios? Outra vez? – Perguntam os mais insensíveis aos encantos da natureza. Claro, porque não? Sempre que me convocarem para percorrer florestas de qualidade, tentarei marcar presença e com todo o prazer.

Afirmam uns maldizentes, que eu só elogio estas zonas, por serem totalmente desprovidas de “pedrolas”. Certamente que em termos técnicos será a mais pura das verdades, mas haverá alguém que não se sinta motivado, ao desfrutar deste cantinho à beira-lagoa plantado?

O Ginásio Figueirense tendo perfeito conhecimento, do efeito que a Lagoa da Vela exerce nas psiques, colocou-nos à disposição não uma, mas duas etapas de distância média no mesmo dia, para que a dose dupla resultasse mais eficaz. Uma dádiva que toda a família orientista deve agradecer, não obstante o mapa já ter sido utilizado na última jornada do POM`10. Pormenor, que na minha óptica é completamente desprezível, como de resto estão cansados de saber.

Se bem me recordava, o terreno caracterizava-se por inúmeros pormenores de vegetação, relevo baixo, solo arenoso mas preferencialmente limpo, configurando percursos extremamente rápidos, onde a eficiência técnica pode marcar a diferença. Qualquer falha, só será colmatada, com o recurso a velocidade de ponta. Ora, este é um factor que no tocante ao “berdadeiro”, insere-se no campo da utopia. Os erros de navegação não são passíveis de recuperação.

Debaixo de um céu acinzentado e temperatura amena, dei início aos 4.100 metros da etapa matinal, a respirar optimismo, aproveitando a boa aura que emanava da Lagoa. Segundo os meus cálculos, se pretendia efectuar um comportamento decente, teria de despachar os quinze controlos que compunham o meu percurso, em cerca de quarenta e cinco minutos, pois previa que os primeiros baixassem da meia hora (a fina flor do escalão compareceu em peso). Pode-vos parecer um objectivo pouco ambicioso, que aliás também corroboro, mas infelizmente devem reconhecer que é altamente realista.

Como a lista de partidas não me foi favorável, passei uma parte do percurso a olhar por cima do ombro, dado que me sentia uma autêntica lebre a fugir do predador - fui contemplado com a saída do Albano quatro minutos depois. Apesar de se encontrar lesionado, fez questão de rolar em ritmo de “trote” (ouvi isto algures), o que me deixou desconfiado, pois o homem não sabe progredir devagar.

Portanto, a minha preocupação foi no sentido de retardar ao máximo a inevitável ultrapassagem, a que estava sujeito. Os primeiros cinco pontos, não me causaram qualquer arrelia, contudo na progressão para o seguinte, ao evitar alguma vegetação mais incómoda, desenhei uns “ésses” estapafúrdios, desviando-me de rota umas dezenas de metros, dando origem a uma perda de tempo desnecessária. Convenci-me que esta desconcentração me iria custar cara, porque às tantas o “campeão” já teria passado.

No entanto, não me dei por vencido e continuei a forçar, de acordo com os meus modestos andamentos, só que duas balizas à frente, volto a cometer uma asneira, mas desta vez não tive direito a perdão. Hesitei na localização do “129” (depressão rodeada de verdes), procurei-o nuns arbustos ao lado e é precisamente com a chegada do Albano, que me apercebo do prisma.

Vinte e cinco minutos e oito balizas depois, finalmente respirava de alívio. A partir daqui não teria mais de me afligir com a retaguarda. Suportar aquela sombra a pairar, durante tanto tempo, nem foi mau de todo. Também não usufruí nada com a sua passagem, pois logo de seguida surgiu a pernada mais longa (650 mts) e num ápice perdi o rasto do seu trote, hehe! Nem com ele ao pé-coxinho, demonstrei arte para o aguentar.

Até ao final, despendi pouco mais de dezanove minutos, para os sete pontos em falta, o que fornece uma ideia do acerto do “berdadeiro”. Não poderia ansiar por comportamento tão equilibrado, só mesmo uma prova limpa, o que nem de aspirador em punho seria realidade.

Da parte de tarde, enquanto digeríamos uma canja substancialmente encorpada, fomos revisitar a zona sul do mapa, notando-se a preocupação do traçador em nos proporcionar um género de percursos diferente, onde apenas o local das partidas e o “200” viriam a ser comuns. Ninguém se pode queixar de monotonia, dado que os verdes e amarelos consecutivos obrigavam a atenção permanente, tendo provocado alguns dissabores (a mim foi mais indisposição “aerofágica”).

Para essa ronda vespertina, apresentaram-nos uma distância com apenas mais duzentos metros, mas igual quantidade de pontos para controlar (15). A minha sina estava traçada novamente. Fugir a sete pés do “lesionado” (a ordem de partida era igual) e providenciar, para que as tolices do “berdadeiro” não tivessem muito impacto.

Na eventualidade de as coisas decorrerem dentro de parâmetros normais, deveria efectuar um tempo idêntico ao da manhã e tentar não ser atropelado prematuramente pelo “big boss”. Começo por confidenciar, que não tive oportunidade de o presenciar em prova. E o facto tem uma explicação de “lana-caprina” (não, não cheguei primeiro, hehe!). Do oitavo para o nono ponto realizei uma progressão pouco ortodoxa (atascanço de três minutos junto a caminhos…só a mim) e ele aproveitou para me passar de mansinho, tendo todo o cuidado em não dar nas vistas, apenas para não me desmoralizar (é um camaradão!).

Julgo ser perceptível, que me desenrasquei razoavelmente nas duas etapas, tendo obtido um registo mais interessante no período pós-almoço, que até pode parecer estranho, se levarmos em consideração a fadiga acumulada, o desnorte do ponto 9, o excesso de hidratos de carbono e o ser batido segunda vez por um senhor “aleijadinho”. O “berdadeiro” é uma permanente caixinha de surpresas.

Desconheço se a Lagoa da Vela, efectivamente liberta alguma energia positiva, mas constatando a felicidade estampada nos rostos da rapaziada, não custa nada acreditar em mais um fenómeno paranormal. 

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