Uma prova com a importância do Portugal O`Meeting, tem o poder de proporcionar surpresas agradáveis como simultaneamente criar algumas desilusões. Na realidade, este evento conseguiu o feito notável de atrair até à Figueira da Foz mais de um milhar de atletas estrangeiros oriundos de um número considerável de países, o que só por si seria um facto a noticiar, mas uma vez mais a comunicação social fez questão de se alhear da competição desportiva, que anualmente promove o país pelos quatro cantos do mundo.
Uma situação deveras estranha que não abona nada a favor do nosso jornalismo (se fossem duas dúzias de “patos bravos” das pranchas ou uma mão cheia de tipos com calças aos quadradinhos a arremessar bolinhas p`ra buracos relvados, com certeza teriam honras de primeira página). Infelizmente nem uma “Tiomila Portuguesa” chamaria a atenção destes saloios. A Orientação ainda não tem poder suficiente para motivar os média nacionais.
Todavia, a força do POM está plenamente demonstrada pelos 1.800 participantes de 29 nacionalidades, que durante quatro dias percorreram as florestas da zona centro do país. Não estaremos perante um “fenómeno” que desperte curiosidade no grande público? Que modalidade será esta, que arrasta multidões até ao nosso cantinho à beira-mar plantado? Santa ignorância nos acuda!
Para jornada de abertura foi escolhido o mapa da Praia da Leirosa, onde se disputou uma prova de distância longa. Claro que o “berdadeiro” teria de marcar presença em acontecimento tão importante (também não lhe restava outra opção, pois seria “despedido” com justa causa), quanto mais não fosse para enriquecer curriculum ou para arranjar mais uma carga de trabalhos do foro psíquico.
Os meus 7.200 metros e 22 controlos nem me pareceram grande obstáculo. Afinal tudo se iria passar em terreno de pinhal e dunas, clareiras pronunciadas, um número apreciável de caminhos e areia…toneladas dela. Cenário que até me agradava bastante.
O problema foi eu não estar preparado (mas devia estar) para um outro poder que emana do POM. Acontece, é que nestas provas onde participa a nata dos orientistas mundiais, os nossos traçadores aproveitam para mostrar credenciais e engendram uns percursos para complicar a vida aos “camones”, mas quem se lixa é o “tuga” menos precavido, grupo onde o “berdadeiro” encaixa na perfeição.
Mas aquilo que me perturbou seriamente foram certos fluidos que o POM teve o poder de atrair. Ninguém me irá convencer, que uma assombração não andou por ali a pairar. Os disparates que cometi entre o quinto e nono controlo, apenas podem ter justificação por algo de muito forte e estranho, direi mesmo sobrenatural, proveniente do campo paranormal e da alma penada.
A minha tese baseia-se no facto, de “alguém” completamente despeitado, sofrendo de doentio espírito de vingança, me tenha atazanado o miolo sempre que lhe dava na gana. Pssiu! Não se riam com o que vos vou confidenciar – “o fantasma do “espécie” andou à solta na floresta da Leirosa” – Chiu! Sejam discretos!
Não obstante uma ou outra hesitação, as pernadas até à quinta baliza, não lograram complicações de maior. Mas no meio do percurso para o ponto seguinte, num trilho pejado de clareiras, donde tinha de sair para picar o”163”, comecei a ter premonições com prismas, conseguindo encontrar tudo o que fosse laranja (três balizas alheias e umas cascas do fruto), com excepção do almejado controlo. De repente, sem que eu tivesse feito nada para que isso acontecesse, como por artes mágicas, esbarrei-me com o desgraçado. Convenhamos que isto não é uma situação normal (arrepio-me só de lembrar).
Ainda mal recomposto, saio de rompante para um facílimo percurso de 400 metros, bem referenciado por um largo aceiro e uma bela duna, mas sou acometido por uma sensação algo esquisita (tipo calafrio na espinhela), que me obrigou a correr como um desalmado em direcção à maresia, apenas parando quando desemboquei na praia, a mais de trezentos metros do ponto. Momento inexplicável, que ainda hoje não consigo perceber, apresentando todos os contornos de perfeita alucinação.
Como não há duas sem três, surgiu o “ponto especial” desta etapa – “170” a nascente encantada. Pois é, exigia-se que a malta penetrasse numa zona de vegetação densa e desencantasse a origem dum ténue fio de água. O que eu procurei pela dita fonte, juntamente com uma dezena de “exploradores” que entretanto foram chegando e atascando. Quantos mais vinham ao “pasto” maior era a confusão. Acabei por quebrar o feitiço, embicando pelo trilho certo (empurrado por uma “força oculta”), numa altura em que já me descabelava de desespero.
Depois de cerca de vinte minutos de pastorícia militante, que me deixaram à beira de um esgotamento nervoso, desta vez tinha mesmo de rumar à praia, para uma primeira abordagem às dunas (ainda haveria outra mais tarde) e picar dois pontos que se encontravam camuflados no centro dum emaranhado de pequenos montes arenosos, com uns arbustos dispersos para complicar. Entrei na duna, com o azimute atinado, mas não fui capaz de resistir à tentação de espreitar uma baliza que uma elite estava a picar e zás…não era minha.
Ainda bati aquela área circundante, na esperança de acontecer algum milagre, mas o fantasma continuava presente e só pressenti que se afastou, quando decidi voltar à orla da floresta, relocalizar-me e aí sim, a agulha magnética acalmou a “doideira”. Posso afirmar que fui alvo de um “trabalhinho” bem elaborado, ao melhor nível de um “vodou” caribenho.
Quatro pontos seguidos a cometer as maiores parvoíces de que há memória, perdendo um “camião” de minutos, que se equipararam ao tempo que o vencedor demorou a percorrer toda a etapa, é motivo para deitar por terra a mente mais aguerrida, quanto mais uma a sofrer de assombração.
Não me perguntem onde arranjei forças para continuar, dado que ainda faltavam treze pontos, mas na verdade, a partir daqui efectuei uma prova dentro de parâmetros normais (tentei exorcizar os fantasmas), isenta de arrelias e atropelos à orientação, sem no entanto deixar de continuar a ter a esquisita sensação de que algo pairava sobre o meu boné – só poderia ser “ele”.