Aníbal Novo e o Basquetebol, de jogador a treinador

 

 

Temos connosco Aníbal Novo, actual treinador de basquetebol da equipa de sub-14 e Coordenador do Mini Basquete do Clube C.R.D. Arrudense, na Arruda dos Vinhos.

 

Este Clube conta com cerca de 100 atletas na modalidade do basquetebol ao longo dos vários escalões. Tem atletas Mini (Masculino e feminino), sub-14, sub-16 e sub-18, sendo estes três últimos somente com atletas masculinos e a sua competição é federada.

 

Aníbal Novo começou a sua actividade no basquetebol por brincadeira no 8º ano de escolaridade e o seu talento não ficou indiferente a um dos seus professores que o motivou a entrar na modalidade e na competição.

 

O então atleta jogou em clubes como União do Forte da Casa, Vilafranquense e Moscavide.

 

No ano de 2017 surge-lhe um novo desafio proposto pelo coordenador de basquetebol do Arrudense para fazer o curso de treinador de grau 1, e a iniciar um projecto para aumentar o Mini Basquete no Arrudense.

 

Agora aos 45 anos de idade o seu papel na modalidade é outro que tinha no seu 8º ano ou seja motivar, ensinar a técnica aos seus alunos e incentivar ao trabalho de equipa logo desde pequenos.

Vamos falar então com o Aníbal Novo:

 

AMMA: O mote desta reportagem é a sua passagem de jogador a treinador. Qual é a sua retrospecção da caminhada feita desde o tempo em que era jogador e até passar a ser treinador no basquetebol?

 

Aníbal Novo: Enquanto jogador, as amizades que fiz, o que me diverti, o que aprendi e cresci enquanto jogador e ser humano, foi muito bom. Agora como treinador, conseguir passar alguma dessa aprendizagem aos mais novos , é um voltar atrás no tempo. Quando estou a dar treinos, conseguir isolar todos os problemas do dia a dia é otimo. Além disso, não sou só eu que ensino. Aprendo muito com os "meus" atletas.

 

AMMA: O facto de já ter sido jogador federado ajuda-o como treinador? Consegue compreender de forma diferente o que sentem os seus atletas pelo facto de ter praticado a modalidade?

 

AN: Sem dúvida que ajuda, o ter estado no lugar de atleta, a alegria e a frustração das vitorias e das derrotas. A paixão que ganhei pelo jogo tento transmiti-la aos atletas, alguns dos ensinamentos que recebi tento aplicá-los hoje em dia.

As crianças hoje em dia são muito introvertidas, expressam muito pouco os sentimentos. No inicio e a meio das épocas peço que me respondam por escrito a algumas questões e, tento por aí avalia-los e compreende-los. Depois disso, trabalhar e motivar como equipa mas acima de tudo individualmente.

 

AMMA: Qual é o seu papel e as suas acções como coordenador do Mini Basquete? Como está a ser a adesão dos “Minis” à prática da modalidade? Vocês fazem divulgação nas escolas?

 

AN: Como coordenador, tento organizar e participar no maior número de convívios organizados pela Associação de Basquetebol de Lisboa, organizar os treinos para os 3 escalões dentro do mini basquete e fazer algum trabalho de divulgação da modalidade dentro do concelho de Arruda dos Vinhos. Esta época pela primeira vez, participámos num torneio fora do distrito de Lisboa, nomeadamente em Guimarães.

A adesão está um pouco abaixo do esperado, atualmente temos cerca de 40 atletas no mini basquete. Temos muito trabalho de divulgação pela frente. Queremos ir mais vezes ás escolas do primeiro ciclo, trazer eventos e equipas de outras partes do pais para jogarem com os nossos minis e criar incentivos para os atletas que trouxerem amigos para treinar connosco.

Fizemos uma demonstração da modalidade nas escolas do agrupamento de Arruda dos Vinhos e o caminho para captação passa muito por aí, ensinar ás crianças que o basquetebol apesar da competição é um desporto saudável e divertido.

 

AMMA: Este tipo de atividade retira-lhe muito tempo da sua vida pessoal? Como consegue gerir, emprego, basquete e família?

 

AN: O basquetebol retira-me algum tempo da vida de pessoal, claro que sim, mas é uma paixão.

Pelo menos 3 vezes por semana só chego a casa já depois da hora de jantar. Fins de semana, durante a época desportiva são passados em pavilhões porque todos os fins de semana há jogos ou convívios de minis.

Como os treinos iniciam ás 18:30, normalmente não interfere com o horário de trabalho. Faço todo o planeamento dos treinos durante a noite quando já todos estão a dormir e, aproveitamos os fins de semana, para estarmos um pouco em família depois dos jogos.

 

AMMA: Trabalha com crianças pequenas no Mini Basquete e adolescentes no sub-14. Que desafios tem pela frente quando pega numa equipa recém formada? Que principais arestas é que tem que limar para que trabalharem como um todo? Há muitos jovens com o espírito individualista?

 

AN: O principal desafio quando se tem uma equipa recém formada é criar uma equipa unida, um espirito de amizade, um companheirismo.

Acho que acima de tudo a principal aresta a trabalhar é o respeito pelos colegas e adversarios, acho que as crianças são sem intenção muito crueis para com aqueles que tem dificuldades.

No basquetebol é dificil ser individualista, mas sim, ás vezes lá aparece um que pensa ser o melhor e que não precisa dos outros para jogar. Resolve-se com o tempo, é o trabalho de respeito e união que se tem durante os treinos.

 

AMMA: Tem colegas a trabalhar consigo no desenvolvimento das equipas, ou habitualmente treina os seus jogadores sozinho?

 

AN: No mini basquete tenho 7 monitores que foram ou são atletas do clube, divididos pelos 3 escalões. O João, o David e a Madalena nos mini-8. O Miguel e a Mariana nos mini-10 e o Pedro e o Filipe nos mini-12.Sem eles seria impossível ter os 40 atletas no escalão dos minis.

Nos sub-14 tenho ajuda de um dos monitores dos minis que em principio vai tirar o curso de treinador ainda esta época.

 

AMMA: Tendo em conta a idade dos atletas das suas equipas, como costuma ser a vossa análise com eles no final de um jogo qualquer que seja o resultado obtido?

 

AN: Nos minis a única palavra é divirtam-se, não há resultados afixados. Obviamente que há competição, que eles gostam de ganhar e tentam sempre saber o resultado mas, no fim o importante é fazerem exercício e divertirem-se.

Já nos sub-14, como já são federados, a competição já é mais a sério. Tento ser o exemplo daquilo que quero que eles sejam como pessoas e jogadores,

No final do jogo, tento sempre tirar algo positivo do jogo, mesmo que não se ganhe. Fazemos sempre uma analise do jogo no treino de segunda feira, onde os ânimos já estão mais calmos e conversamos todos sobre o que podia ter sido melhor.

 

AMMA: Eles aceitam as suas indicações, ou por vezes tem que utilizar outros métodos para lhes mostrar que fizeram um bom jogo ou que têm que melhorar alguma técnica?

 

AN: Aqui está uma boa questão. É complicado, alguns pensam que já sabem tudo e que não precisam de aprender mais nada, por outro lado há os que pensam que nunca fazem nada bem feito. Não é fácil lidar com crianças mas é sempre bastante gratificante quando por exemplo um miúdo com baixa autoestima marca o seu primeiro cesto ou, quando um dos que pensa que sabe tudo, ouve e percebe que afinal alterando alguma coisa no seu jogo acaba por melhorar.

Acho que aqui o método é conhece-los e saber como falar e motivar individualmente primeiro e depois em equipa.

 

AMMA: Sente que existem muitas pessoas a assistir aos jogos com o chamado comportamento de “treinador de bancada”? Que medidas toma nessas ocasiões?

 

AN: Infelizmente não existem muitas pessoas a assistir a estes jogos nos escalões de formação, por norma são os pais dos atletas a assistir.

No basquetebol felizmente não há muitas situações de "treinador de bancada", quando há, normalmente as pessoas são chamadas à atenção e o assunto resolve-se.

 

AMMA: O Clube dispõe de meios próprios para as deslocações dos atletas para as competições?

 

AN:O clube tem transporte mas algumas vezes utilizamos o transporte cedido pela Câmara de Arruda dos Vinhos

 

AMMA: Quando não tem o transporte disponível como é que procedem?

 

AN: No caso do basquetebol, só no escalão de sub-18 é que utilizamos o transporte do clube. Nos atletas mais novos, fazemos questão que os pais levem os filhos. É uma forma de assistirem aos jogos e as crianças gostam sempre de saber que os pais estão a ver o que fazem.

 

AMMA: O que acha que deve ser melhorado a nível nacional no desporto amador, em especial modalidades que envolvam crianças e adolescentes para que eles não desmotivem e deixem a sua prática?

 

AN:Acho que a educação física devia de ser disciplina obrigatória, desde o primeiro ciclo. Aí deviam de experimentar as diversas modalidades para as crianças perceberem de que modalidade gostam. No nosso caso, a taxa de abandono é muito pequena e normalmente os atletas que abandonam o basquetebol não vão para outra modalidade.

 

AMMA: Neste período de inactividade derivado à pandemia do Covid-19 continuam a manter o contacto entre treinador e praticantes? Mantém o vosso convívio mesmo à distância com o recurso aos meios tecnológicos?

 

AN: Nos escalões dos minis tentámos enviar emails aos pais só para saber como estavam e tentar perceber se as crianças estavam a fazer alguma atividade. Fomos também colocando alguns desafios na nossa pagina privada do facebook para todos os atletas.

Com os mais velhos, fomos fazendo algumas reuniões com eles através de plataformas online.

 

AMMA: Como é que eles têm reagido no geral por terem deixando de praticar uma modalidade que gostavam? Sente-os impacientes nesse aspecto?

 

AN: Sei que grande parte sente muito a falta do basquetebol. Pelo convivio e pelo gosto que já criaram pela modalidade. Foi tudo muito repentino, de repente foi tudo cancelado. A competição ainda estava a decorrer e foi interrompida. Os convivios dos minis de repente acabaram, e explicar isto a alguns deles foi complicado.

 

AMMA: Tem uma mensagem para os pais que estejam indecisos em inscrever os seus filhos numa modalidade desportiva? Os benefícios, o companheirismo, o tempo para brincar dentro do desporto?

 

AN:É essencial que façam desporto, deixem-nos experimentar as modalidades até encontrarem uma onde se sintam bem.

O desporto coletivo tem a vantagem de os fazerem conviver e conhecer outras crianças. Hoje em dia as crianças estão muito habituadas estarem sentadas no sofá, em frente á televisão ou aos telemóveis.

O desporto é muito importante para o bem estar físico mas, acima de tudo o bem estar psicológico.

 

Texto: Pedro MF Mestre

Foto: Artur Martins

 

 

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