In Memoriam - Georges Stobbaerts (1940 – 2014 (6 de Janeiro)

Para mim escrever sobre Georges Stobbaerts é um grande risco, risco esse na medida em que vou deixar muita coisa por dizer, mas não me contenho a deixar uma homenagem a este grande Mestre.

 

Quando soube da sua partida, no dia 6 de Janeiro à noite, através de um Mestre muito próximo dele, fiquei muito triste e nostálgico, não esperava aquela notícia naquele momento.

 

Entrei no mundo das artes marciais, através da sua escola.

 

Em 1988 iniciei-me ao Aikido nos Salesianos do Estoril, a minha escola. Não sabia nada sobre esta arte marcial, mas tanto eu como os meus pais acharam que era importante fazer Aikido.

 

O meu Mestre foi António Piano, um grande professor, dedicado aos alunos, com muita mestria, e exigência.

 

Reforcei os meus treinos no Budokan Portugal em Cascais, dojo do Mestre Georges Stobbaerts, com ambiente totalmente oriental, até o tatami era diferente dos habituais, feito de tecido bege em vez de blocos verdes.

 

Este dojo tinha um ambiente perfeito para a prática de artes marciais assim como o Zen, lembro-me de uma sala à parte onde se podia praticar este arte de meditação.

 

Das poucas vezes que estive com Georges Stobbarts, aprendi sempre algo de muito valor.

 

A primeira vez, foi quando foram comemorados os 25 anos do Aikido em Portugal, aí fiz-lhe uma pequena entrevista, para publicação num jornal local em que eu gostava de colaborar.

 

Nessa pequena entrevista, introduzi o Aikido e o que o Mestre fazia em prol desta arte marcial em Portugal. Passados uns dias o trabalho foi publicado, e mostrei-lhe. Ele disse-me que esperava mais de mim, não de forma repreensiva mas com mestria, de forma a motivar-me para fazer cada vez melhor.

 

Para mim foi o que ele sempre fez, fazer sempre cada vez melhor.

 

Depois disso participei num estágio seu em Dezembro de 1992, e a última vez que estive com o Mestre, foi a fazer reportagem para a AMMA Magazine em Julho de 2012, no início do estágio de Verão de Aikido no Ten-Chi. Sempre o mesmo Mestre, amável, cheio de sabedoria, muito exigente e a transmitir os seus conhecimentos de forma única. Os seus estágios são momentos inesquecíveis.

 

O Ten-Chi foi o auge da sua obra, que nunca acabaria de ser construída por muitos mais anos que ele se dedicasse a ela, pois o saber, o contributo de todos os alunos, professores e mestres que por lá passam a ensinar, nos estágios, nas palestras e conferências, é uma ciência, uma arte e filosofia viva que nunca acabará.

 

Este texto que está à entrada do Ten-Chi diz tudo:

“Deveria haver um lugar onde todo o ser humano pudesse viver livremente como um cidadão do mundo. Um lugar onde o despertar do homem e o seu progresso interior se fizessem na harmonia entre o corpo e o espírito. Um lugar onde as artes se encontrassem a fim de acordar as consciências. Um lugar consagrado a criar relações de fraternidade entre os homens e a fazer prevalecer a paz no mundo.” Ten-Chi – 1978

 

Outro que para mim é de extrema importância é este que vemos mais abaixo:

“Que prevaleça a paz no mundo”

 

É o motivo principal das artes marciais orientais, a construção da paz e de um mundo melhor.

 

O Ten-Chi esteve sempre associado ao Aikido, Zen, e de forma muito particular ao TenChi Tessen, a arte do Mestre Stobbaerts.

 

Ele criou uma arte em que o movimento e o sopro são a harmonia e a sua beleza.

 

Os praticantes com Kimono e Hakama brancos, com leques vermelhos, fazem uma coreografia cheia de sentido e motivo, não são movimentos no ar, são sentimento, mensagem, energia e paz.

 

Este grande Mestre, sempre esteve ligado às artes corporais entre o teatro e outras.

 

Lutou muito para chegar à realidade do Ten-Chi, com a ajuda dos que o rodeavam, familiares, amigos e alunos, hoje o sonho não é utopia mas sim uma realidade.

 

Até sempre Mestre!

 

Pedro Mestre

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