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Informação Cultural
A energia vibrante da 14ª edição do GUIdance flui já a partir desta semana


A 14ª edição do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea inicia esta quinta-feira uma viagem de 10 dias com foco ibérico e no flamenco. Em 2025, o GUIdance apresenta espetáculos de alguns dos coreógrafos mais inovadores do mundo como Rocío Molina, María del Mar Suárez La Chachi, Vera Mantero & Susana Santos Silva, Silvia Gribaudi, Marta Cerqueira, Clara Andermatt, Habib Ben Tanfous, Benjamin Kahn, e Israel Galván. A somar aos 9 espetáculos em que promove estreias nacionais e absolutas, com continuidade na aposta na nova criação e nas coproduções, como são marca-exemplo a integração dos espetáculos relacionados com a rede europeia Aerowaves e o novo ciclo Zona Franca, a energia vibrante do GUIdance promove também ações de mediação cultural como Bailar Fora de Casa, Talks, Embaixadas da Dança, Masterclasses, Debates, Cinema, Ensaio Aberto e Performance no Museu.
De 6 a 15 de fevereiro, o GUIdance envolve Guimarães e o mundo num programa que estimula formas de expressão que têm como combustível uma força criadora que se (re)veste de futuro mantendo a essência da tradição, abraçando a esperança numa ligação que apela à natureza. A urgência luminosa da dança na era da outralidade apresenta-se assim no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), no Teatro Jordão (TJ) e no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG).
Trazendo à linha da frente matérias importantes como tradição, mitologia, migrações, padrões sociais, transcendência, entre outras, o que ligará concetualmente esta edição é um neologismo: ‘outralidade’, uma ideia básica mas simultaneamente complexa de que já não chega reconhecer o lugar da diferença, sendo preciso incorporá-la na forma como nos descobrimos a nós mesmos, renovando os significados a partir de um interior que vem da "parte outra". Uma outralidade constituída por toda a humanidade que nos caracteriza na sua mais imponente diversidade, mas também pelo cosmos (desconhecido) e por todas as forças vivas e inertes alinhadas pela força misteriosa da vida.
Numa edição transfronteiriça, como é habitual, e forte em cruzamentos disciplinares, o GUIdance 2025 apresenta 9 espetáculos já a partir de 6 de fevereiro, numa diversidade de estilos de dança expressos em convivência intergeracional e entre diferentes géneros artísticos como a dança e a música, revelando um foco ibérico que se prepara para conduzir o flamenco para terrenos mais experimentais e desafiando as normas do género. A diversidade é igualmente marcada nas raízes geográficas dos criadores (Portugal, Espanha, Irão, França, Tunísia, Bélgica).
As chaves da inauguração desta 14ª edição do GUIdance, a 6 de fevereiro, são entregues a uma das protagonistas da nova era da dança flamenca, Rocío Molina, para apresentar em estreia nacional “Al Fondo Riela (Lo Outro Del Uno)”, um espetáculo onde surge rigorosamente vestida de preto, acompanhada por dois talentosos guitarristas. Esta é uma peça sobre a perda da realidade, onde Molina (premiada com um Leão de Prata da Dança na Bienal de Veneza em 2022) dança farrucas, seguiriyas, bulerías e soleás, numa luta constante com a sua própria imagem, mergulhando nas profundezas dos seus medos para se libertar de todos os seus fantasmas. Seguindo os passos de pioneiros como Israel Galván, Molina desafia os dogmas da tradição ao reinventar um flamenco que respeita a sua essência e abraça a vanguarda.
As honras de encerramento do GUIdance 2025 cabem precisamente a Israel Galván, que traz a Guimarães a estreia nacional da sua peça "La Consagración de la Primavera", a 15 de fevereiro. Israel Galván começou a dançar flamenco desde muito jovem e hoje é considerado um dos bailarinos e coreógrafos mais inovadores do mundo. Galván inspira-se numa variedade de temas, conduzindo o flamenco para terrenos mais experimentais e desafiando as normas do género. Fascinado pelas silhuetas do bailarino russo Vaslav Nijinski, neste espetáculo entrelaça o flamenco com a imponente partitura de Igor Stravinsky, “A Sagração da Primavera”, subvertendo e reconstruindo a tradição, enquanto explora todas as possibilidades do flamenco. Galván utiliza o seu corpo como caixa de ressonância – dos dedos das mãos aos pés, com o clássico zapateado –, deixando-se consumir pelo ritmo da música interpretada ao vivo pelos pianistas Daria van den Bercken e Gerard Bouwhuis, num espetáculo que promete encerrar o GUIdance de forma apoteótica.
Retomando os passos desta edição, na sexta-feira 7 de fevereiro a coreógrafa e bailarina María del Mar Suárez, La Chachi e a cantora Lola Dolores embarcam numa interpretação pessoal da crueza intensa do taranto, um estilo do flamenco originário da zona de Almería. Canção primitiva, simples, seca, sem acompanhamento de guitarra, que surgiu da necessidade de cantar de forma independente. Em “Taranto Aleatorio”, a história desenrola-se em torno de duas mulheres que partilham um espaço quotidiano, seja um parque, à porta de uma casa ou um pátio. Entre conversas e momentos de silêncio íntimo, a narrativa é interrompida pela dança e pelo canto. Numa abordagem aleatória do taranto, a coreografia nasce como um delicado redemoinho até se transformar numa enorme tempestade, marcada por gestos irreverentes, pelo humor e o inesperado. Este é um dos espetáculos selecionados no âmbito da rede europeia de apoio à dança contemporânea emergente Aerowaves, onde se inclui o Centro Cultural Vila Flor como presenting partner.
Outras das peças apresentadas nesta edição do GUIdance no âmbito da mesma rede internacional Aerowaves são “SubLinhar”, uma criação da artista portuguesa Marta Cerqueira (9 fevereiro), dirigida aos mais novos, que pretende promover um olhar para a dança enquanto veículo para o autoconhecimento, um instrumento para o conhecimento do outro e para o conhecimento do mundo; “Here, I bequeath what doesn’t belong to me” de Habib Ben Tanfous, espetáculo visceral, delicado e único, apresentado em estreia nacional a 14 de fevereiro, onde o bailarino e coreógrafo embarca numa viagem à procura da sua identidade, a partir de arquivos familiares, memórias de infância e eventos pessoais recentes; e “Bless the Sound that Saved a Witch like me” de Benjamin Kahn no dia 15, também apresentado em Guimarães em estreia nacional, uma performance solo, física e sonora, coreografada por Benjamin Kahn para Sati Veyrunes, que transporta o público por diferentes estados (transe, resistência, êxtase) enquanto viaja, imersa numa paisagem sonora vibrante, e se transfigura de um estado para outro, confundindo os limites: às vezes mãe, outras homem, mulher, bruxa ou um ser indefinido.
No primeiro sábado do festival, 8 fevereiro, às 18h30, o destaque começa por se dirigir para uma estreia absoluta protagonizada por Vera Mantero & Susana Santos Silva, "Cloud Nine (Nuvem Nove)", que tem como ponto de partida um projeto de improvisação sobre movimento, gestos, palavras e afins. Esta nova criação da coreógrafa e bailarina Vera Mantero – um dos nomes centrais da nova dança portuguesa, com quase quarenta anos de carreira – e da trompetista, improvisadora e compositora portuguesa Susana Santos Silva – nome central da cena jazz europeia – inaugura o novo ciclo Zona Franca, um território livre para a experimentação interdisciplinar, fruto de uma parceria que se desenrola ao longo de 2025 entre o Centro Cultural Vila Flor (A Oficina, Guimarães) com Theatro Circo e gnration (Faz Cultura, Braga).
A coreógrafa italiana Silvia Gribaudi, eleva a imperfeição humana a uma forma de arte que ultrapassa os estereótipos e as aparências no seu espetáculo “Graces”, inspirado na escultura “As Três Graças”, criada por Antonio Canova entre 1812 e 1817, onde as três filhas de Zeus – Eufrosina, Aglaia e Tália – irradiam esplendor, alegria e prosperidade. Apresentado em estreia nacional a 8 de fevereiro, esta peça joga com três figuras masculinas que tomam conta do palco num espaço e tempo suspensos entre o humano e o abstrato: um lugar onde o masculino e o feminino se encontram, sem papéis definidos, dançando ao ritmo da própria natureza. Tal como é marca de Gribaudi, esta criação transforma imperfeições em arte, com um estilo cómico, cru e empático, que transcende as fronteiras entre a dança e o teatro.
Clara Andermatt é outro dos nomes em destaque nesta edição do GUIdance com "Sensorianas", obra que partiu do convite dos Estúdios Victor Córdon para criar uma peça inspirada na cultura persa. A obra representa um desafio de aproximação e celebração da riqueza cultural do Irão, incorporando contribuições da diáspora iraniana radicada em Portugal. Andermatt foca o universo feminino e move-se num espaço de diálogo e reflexão sobre aspetos de vida quotidiana, da liberdade, e da diversidade cultural reinterpretando dança, poesia e música do Irão. A criadora não procura abarcar a imensidão da cultura persa, mas sim propor uma visão subjetiva, um olhar curioso e interessado para uma realidade muito diferente da nossa.
Ao longo de toda a viagem que esta edição do GUIdance nos proporciona, contaremos também com diversas ações que nos (inter)conectam de várias formas. O festival é assim fortalecido e encorpado com iniciativas que colocam o público em contacto com alguns dos mais conceituados criadores e intérpretes internacionais da dança contemporânea, como o Bailar Fora de Casa na sede Associação Os 20 Arautos liderado por María del Mar Suárez, La Chachi (6 fevereiro), Talks com artistas no final dos espetáculos (7, 13, 15 fevereiro), Embaixadas da Dança nas escolas secundárias de Guimarães com María del Mar Suárez, La Chachi, Silvia Gribaudi, Margarida Bak Gordon (assistência artística e investigação do espetáculo “Sensorianas”) e Israel Gálvan (7, 11, 12, 14 fevereiro), duas Masterclasses com Silvia Gribaudi e com Helia Bandeh (intérprete e consultora artística do espetáculo “Sensorianas”) (7 e 14 fevereiro, respetivamente), Debates moderados por Claudia Galhós com o tema Outralidade - regenerar, cuidar, sentir e especular com a vizinhança (8 e 15 fevereiro), Sessões de Cinema em parceria com o Cineclube de Guimarães (9 e 11 fevereiro), um Ensaio Aberto para escolas da peça “Sensorianas” de Clara Andermatt (12 fevereiro), e ainda o Museu GUIdance que se traduz numa Performance de Teresa Silva, com diagramas de Ricardo Basbaum, no âmbito da exposição "Chão" (15 fevereiro) patente no Centro Internacional das Artes José de Guimarães.
Inclinando-se sobre esta 14ª edição do festival, Rui Torrinha (diretor artístico do GUIdance) manifesta que “Sentimos que este tempo, que já transcende o conhecimento que dele possamos ter, obriga a reconhecer que a identificação da diferença e da “parte outra” já não é suficiente para resolver os grandes dilemas que nos assaltam e que, assim, colocam dúvidas sobre a nossa própria continuidade enquanto espécie.” E assim, neste GUIdance, abrimos os braços a “Uma ideia especulativa, forte, de que o desenvolvimento do nosso conhecimento próprio, deve cada vez mais considerar, como energia fundamental, a relação de curiosidade e empatia por todo o entorno existencial, gerador de todo e qualquer contexto. Isto é, importa considerar e fomentar todas as possibilidades de interação entre seres humanos, não humanos, matéria inerte e matéria cósmica.”
Os bilhetes para os espetáculos encontram-se disponíveis por valores entre os 5 e os 15 euros, podendo ser adquiridos online em oficina.bol.pt e presencialmente nas bilheteiras de equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) ou a Loja Oficina (LO), bem como entidades aderentes da BOL. Esta edição contempla também apossibilidade de aquisição de assinaturas que garantem acesso a 2, 3 ou 4 espetáculos à escolha, com descontos de 10%, 20% e 30% respetivamente.
A informação completa em torno do GUIdance 2025 encontra-se disponível online em www.aoficina.pt.