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Preparação para o 3º Taikai Ibérico com o Mestre Antonio Lobo

Estamos a aproximar-nos de mais uma edição do Taikai Ibérico, este ano a 10 de Junho. Este dia tem como a partilha de um espaço onde se vão praticar várias artes marciais em memória e homenagem ao Mestre Ruy de Mendonça. Segundo o Mestre António Lobo, o organizador do evento, infelizmente ele não foi devidamente reconhecido nem em vida, nem depois de falecer.  No Pavilhão Municipal de Delães, Vila Nova de Famalicão, vão-se juntar mais de 500 praticantes e seus Mestres. Algumas das presenças confirmadas são do Kickboxing ao Karaté, Kendo, Defesa Pessoal, Kempo, Kung Fu, entre outras modalidades e estilos. Algumas são estreantes num Taikai (encontro) como é o caso da Luta Galhofa, que vem do nordeste transmontano, com o Mestre Vitor Gomes.

 

O programa é intenso e inicia com a concentração de todos os participantes pelas 08h30 afim de ter o momento do Minuto de Silêncio em memória do Mestre Ruy de Mendonça e dar início às actividades. Actividades essas que só vão terminar pelas 18h00.

O Taikai tem uma componente solidária. Os participantes não têm taxa de inscrição, mas sim são convidados a doar um bem alimentar, que reverte para uma IPSS local.

 

O Taikai é Ibério, como referido, sendo o Mestre Ruy de Mendonça um cidadão português de quem pouco se fala e que teve um papel dinamizador muito forte nas Artes Marciais em Portugal na década de 70 do séc. XX. Passou pelo Japão e terminou a sua carreira em Espanha, com Portugal no coração. Assim o Mestre António Lobo deixa a tradução dos caracteres do diploma de participação da 3ª Edição do Taikai Ibérico: “Dois países, um só propósito”. O Mestre Ruy de Mendonça uniu os dois países em prol da boa prática das Artes Marciais.

Segundo o blogue da Federação Kung Do Te deixamos umas notas biográficas do Mestre Ruy de Mendonça.

 

Estima-se que tenha nascido em 1942, na localidade de Algezur e faleceu em Torremolinos (Espanha) a 6 de abril de 2005.

 

É considerado imortal devido ao legado e obra que deixa e ainda vive entre os seus alunos,  seguidores e mesmo gerações que embora não privassem com ele, desfrutam dos ensinamentos e diretrizes que deixou.

 

Além de Mestre também passa pela atividade editorial sendo diretor de uma revista de Artes Marciais por motivos de sobrevivência.

 

Foi militar na Guerra do Ultramar cuja especialidade era Combate Corpo a Corpo e Sobrevivência.

 

Torna-se graduado em Karaté Shotokai, segue a filosofia e os ensinamentos do Jeet Kune Do (arte marcial criada por Bruce Lee), gradua-se em Ninjutsu Bunjinkan e torna-se formador de Forças de Segurança Públicas e privadas.

 

A  determinada altura junta o melhor dos seus conhecimentos e cria a sua arte, o Kung Do Te, mais tarde passa a designar-se por Ruy San Ryu (Escola do Senhor Ruy).

 

O número de jovens que influenciou desde o início dos seus ensinamentos nos anos 70 é indeterminado. Agora estão espalhados pelas mais diversas Artes Marciais com a função de Mestres desde o  próprio Kung Do Te, ao Jeet Kune Do, Ju Jitsu, Karate, Kung Fu, Kempo, Ninjutsu, Pankration, instrutores de Defesa Pessoal, Treinadores de Boxe, Kick Boxing, MMA entre tantas outras Artes Marciais.

Com esta apresentação da vida e obra deixada pelo Mestre Ruy de Mendonça, conseguimos perceber o que motivou o Mestre António Lobo a organizar os Taikai com participantes das mais variadas Artes Marciais, tanto Mestres como alunos, vindos de toda a Península Ibérica, indo já na terceira edição.

 

Quanto ao Mestre António Lobo, desde pequeno foi aficionado pelas Artes Marciais. Iniciou-se no Karaté Shotokan com apenas8 anos de idade, numa altura em que a oferta das Artes Marciais não era tão vasta como hoje temos. Percebeu que essa não era bem a sua arte e entretanto tem contacto com o Mestre Ruy de Mendonça nos anos 80 com o Kung Do Te. Dava uma dinâmica parecida com o que se via nos filmes de então, com os actores Bruce Lee, Chuck Norris entre outros. Ou seja uma arte combinada com várias artes dentro dela, desde o ringue, as armas, a defesa pessoal entre outras.

 

Coincidindo com o ano da morte do Mestre Ruy de Mendonça, 2005, o Mestre António Lobo inicia-se no Kickboxing até aos dias de hoje.

 

Actualmente, embora queira ser discreto e não fale muito delas, o Mestre António Lobo possui as seguintes graduações:

  • - 3º Kyu em Karate Shotokan
  • - 6º Dan em Karate Ruy San Ryu
  • - Cinto negro em Kickboxing
  • - 3º Dan em Karate Budo Konyu-Kai e representante da modalidade em Portugal

 

Tal como já referido, este Mestre considera que o Mestre Ruy de Mendonça nunca teve uma justa homenagem em vida nem póstuma, pelos seus feitos e ensinamentos, acabando por deixar o seu legado que deixou até aos dias de hoje. Assim resolve criar os Taikai Ibéricos, sendo o primeiro em 2017. Tendo a prova de conceito resultado muito bem, em 2018 tem a segunda edição já com 200 participantes. O Mestre António Lobo faz questão que participem praticantes tanto portugueses como espanhóis, pois o Mestre Ruy de Mendonça deixou legado nos dois países onde ensinou e acha de deve haver uma união entre ambos para homenagear este Grande Mestre.

 

O 3º Taikai a realizar a 10 de Junho de 2023 já tem números históricos de inscritos que ultrapassam os 500 praticantes vindos de cerca de 40 escolas.

 

O Mestre António Lobo conta com a Strong Wolf’s Gym na organização deste grande evento evocativo.

 

Falamos agora com o Mestre António Lobo.

AMMA: Quando decide criar o primeiro Taikai, em que sente que o Mestre Ruy de Mendonça não foi reconhecido nem em vida nem após a sua morte, o que pensou em primeiro lugar? Quantos participantes teve nessa edição?

António Lobo: Eu decidi criar o primeiro Taikai Ibérico porque sempre entendi que o nosso Mestre Ruy de Mendonça nunca foi devidamente homenageado após a sua morte. Durante a sua vida, teve sempre muitos praticantes e mestres à sua volta, mas, no entanto, após a sua morte, nunca lhe prestaram uma homenagem justa, na minha opinião. Anos após a sua morte, muitos Mestres mais velhos postavam fotos ao lado dele nas redes sociais. No entanto, quando os convidei para o primeiro Taikai, não apareceram o que me deixou muito triste, porque pensei que partilhávamos todos a dor de ter perdido o melhor Mestre que Portugal já teve. Na primeira edição tivemos cerca de 180 participantes dos vários estilos, incluindo já com os participantes do nosso país vizinho.

 

AMMA: Quantos anos chegou a praticar com o Mestre Ruy de Mendonça? Que memórias mais marcantes tem dele?

António Lobo: Eu, como todos os praticantes portugueses, quando o Mestre já estava ao sol de Espanha na altura, só treinávamos em taikais, que se realizavam durante o ano, mas foram cerca de 20 anos. Algumas coisas que nunca nunca irei esquecer, não eram só o facto dele ser um homem muito à frente do seu tempo, era um verdadeiro sobredotado nas artes marciais, tudo o que fazia parecia fácil. Ele também gostava de partilhar tudo o que sabia, sem medo de ser engolido. Não guardava nada só para ele. O episódio mais marcante que tenho, é que ele passava por qualquer praticante, mesmo que fosse iniciado e dava-lhe a mesma atenção que a um dito grande Mestre. Com ele não havia estatutos, apenas pessoas.

 

AMMA: Qual era o seu temperamento? Certamente muito rigoroso no treino, mas fora dele como era o convívio com os seus alunos?

AL: Sim, muito rigoroso, claro. Gostava que todos absorvessem todo o seu ensino, mas tinha um dom do ensino, da forma como explicava e demonstrava. Tudo se tornava muito simples e funcional com os seus alunos, não haviam altas patentes. Por vezes, passava horas a conversar com os mais inexperientes, era inspirador, não existiam os grupos das graduações, ao qual toda a gente estava habituada.

 

AMMA: Tendo em conta que o Mestre Ruy de Mendonça fez o apuramento da sua técnica baseado em várias Artes Marciais, é esse o motivo de promover os Taikai como encontro inter-estilos?

AL: Sem dúvida, é esse o único propósito. Ruy de Mendonça era imenso para uma arte só. Como Da Vinci, era pintor, escultor e cientista. Ele conseguia dominar qualquer arte na perfeição, um homem destes nunca poderia se cingir a uma arte marcial. Daí ter a necessidade de criar uma, o Kung-do-Té.

 

AMMA: Como é divulgado um Taikai? Que contacto tem com os Mestres e alunos das diferentes Artes Marciais?

AL: Em primeiro lugar, o Mestre Ruy de Mendonça, conhecendo-o ou não, é um nome que praticamente toda a gente já ouviu falar. De resto, também tenho um histórico de artes marciais e desportos de combate com credibilidade e conhecimento com muitas escolas e estilos, daí esta aderência. Muita gente quer participar neste Taikai para homenagear o melhor Mestre que o nosso país já teve, o nosso mestre Ruy de Mendonça.

 

AMMA: Com este 3º Taikai, após terminarem as restrições da pandemia, como consegue juntar mais de 500 pessoas e 40 escolas? Encontra um motivo para esta adesão?

AL: É muito fácil, trabalhar com a verdade das coisas. O Nome Ruy de Mendonça é eterno, embora muita gente o tenha tentado abafar, sem sucesso.

 

AMMA: A maioria destes participantes chegou a conhecer o Mestre, ou já são de gerações mais recentes que não o conheceram pessoalmente?

AL: A maioria dos que cá vem, só de nome o conhecem. Por exemplo, em Espanha, ainda existem escolas com o seu estilo. No entanto em Portugal, digo com tristeza, deixa muito a desejar a forma como recordam o Mestre, muita gente limita-se a postar fotos do Mestre por likes nas redes sociais.

 

AMMA: É sabido que tem algumas Artes Marciais que participam pela primeira vez num Taikai, como por exemplo a Luta Galhofa que já está anunciada. Quais são as outras e como chegou até elas?

AL: Não sei bem ao certo. Poderá ter sido como outras que entraram em contacto comigo porque o Taikai Ibérico já entrou nesta fase, que são os estilos a ligar se podem participar. A Luta Galhofa foi amor à primeira vista, quando pensamos que vimos tudo, depois de todos estes anos, aparece uma arte marcial portuguesa que não conhecia. Acabei por pesquisar e é muito interessante, toda a sua história. Estou ansioso por a ver no Taikai.

 

AMMA: O cariz solidário do Taikai, incentiva a que os participantes façam a doação de um bem alimentar em vez de uma taxa de inscrição. Vai fazer a diferença à população ajudada pela Associação que os vai receber. Tem ideia de quantas pessoas beneficiam da ajuda desta Associação?

AL: O facto de ser solidário é que nos anos anteriores nada se dava. Mas como temos aqui uma associação local que faz um papel fantástico com pessoas idosas e fragilizadas, decidimos mudar. Lembro-me da pandemia, onde muitos idosos ficaram completamente isolados e esta associação teve um papel fundamental para os ajudar. Daí surgir esta ideia de dar um bem alimentar a esta associação, de nome, Vicentinas, para continuarem a fazer o seu excelente trabalho, e irão também assegurar as refeições de todo o Taikai Ibérico. Certamente, este Taikai irá contribuir para o benefício de várias dezenas de pessoas carenciadas.

 

AMMA: Foi uma decisão rápida de tomar para inscrever nos diplomas de participante a expressão: “Dois países um só propósito”?

AL: Foi realmente uma coisa que nem sequer foi estudada, foi um impulso do momento, surgiu instantaneamente do nada.

 

AMMA: Qual acha que é a mensagem chave que deixa o Mestre Ruy de Mendonça aos praticantes, sejam eles tanto da sua Arte como de outras?

AL: A mensagem é simples. Nós portugueses que praticamos artes chinesas, japonesas, vietnamitas, europeias, etc. Tivemos um Mestre e um estilo nosso com uma qualidade única. Somos um país de talentos, só não sabemos valorizá-los. Por exemplo, o Kung-do-Té era um estilo, nos anos 70, em que se lutava em pé e no chão, hoje em dia vê-se isso nas MMA. Para o Mestre Ruy de Mendonça, um praticante de artes marciais não deve limitar-se, mas deve sempre evoluir. Ele dominava a arte do combate corpo a corpo, das armas, da defesa pessoal, etc. Se podemos aprender tanto, porquê limitarmo-nos? Podemos ser fiéis a uma federação, mas devemos aprender o máximo possível fora dela, pois isso só nos tornará melhores dentro dela.

 

AMMA: Hoje dedicado ao Kickboxing e mantendo ligação com mais Artes, o que gostava de dizer aos praticantes, principalmente aos que se estão a iniciar neste momento?

AL: A mensagem que tenho a dizer aos jovens praticantes é que sejam fiéis à vossa federação, não saltem de banco em banco, isso só vos atrasa, mas não fechem os olhos ao crescimento, aprendam outras coisas, participem em seminários, muito ou pouco, podem sempre aprender algo novo.

 

Texto: Pedro MF Mestre

Fotos e Materiais: Cedidos pelo Mestre António Lobo

 

 
 

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segunda-feira, 9 de setembro de 2024 – 05:44:28

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