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Corre, corre, orientista…corre (II)

Passei uma noite péssima. Fui acometido por um sentimento de remorso, que me provocou longas horas de insónia. Tenho a deprimente sensação, que fui o causador da desilusão, que se apoderou duma grande parte dos convidados presentes no jantar de entrega de diplomas pela FPO, na Quinta da Várzea do Sorraia.

O facto dos vencedores dos escalões regionais não terem sido publicamente distinguidos, apenas se deve a um acto de bom senso e não a uma qualquer falta de respeito ou consideração. Imaginem a situação embaraçosa e constrangedora, por parte dos responsáveis federativos, quando tivessem de chamar um “espécie de orientista” para o premiar. Seria um momento de descrédito para a modalidade, o que compreendo sem qualquer melindre. Portanto meus amigos, desculpem lá qualquer coisinha, o culpado da vossa mágoa sou eu. Mas sejam positivos e pensem que para o ano há mais e eu prometo não estar presente, para não atrapalhar a vossa consagração (palavra de “espécie”).

Depois deste momento de penitência, mas francamente terapêutico (o desabafo alivia a alma), avancemos para o essencial e esqueçamos o marginal. Nada melhor para espairecer de uma noite horrível, do que calcorrear um bom mapa, 3.900 metros de percurso e 17 balizas para procurar. Ah!...e novamente correr, correr…muito.

Tinha dado para perceber no dia anterior, que o terreno onde se iria disputar a prova de distância média, seria tecnicamente mais exigente. No entanto, o desnível acumulado revelava-se inexistente, o que se traduzia em más notícias para as cores da “espécie de orientação”. Iríamos ter necessidade de proceder a loucas e constantes correrias e eu provavelmente já não teria combustível suficiente para as voltar a efectuar.

Não tenho dúvidas, que o percurso foi traçado de modo a tentar complicar a vida aos concorrentes, mas das duas uma: ou os actuais atletas estão na sua maioria, bem preparados para este género de provas, ou o baixo relevo e a profusão de caminhos deram hipótese à execução de vertiginosas provas.

Dando continuidade à panorâmica de sábado, a velocidade foi a tónica dominante desta segunda jornada. Não obstante, os pontos estarem colocados de forma mais aglomerada, o que podia facilitar a vida aos que se orientam melhor em detrimento dos sprinters (sonhei que me podia incluir no grupo dos primeiros), na prática não foi isso que aconteceu. No cômputo geral, assistimos à realização de tempos excepcionais, não dando qualquer chance àqueles que se mostraram menos expeditos. O terreno era técnico, sim senhor, mas não chegou para complicar.

Parti apenas com uma preocupação, pastar o mínimo para correr o máximo. Por acaso até nem se poderia considerar uma ideia descabida, mas para o “espécie” as coisas mudam de figura num estalar de dedos. Cedo me apercebi (ponto 2), que em certas zonas, a táctica do traçador se baseou na colocação de pontos demasiado concentrados, referentes a escalões diferentes, que perturbou os menos atentos, gerando alguma confusão e pastorícia pontual. O malandro só me apanhou dessa vez, obrigando-me a perder dois “enraivados” minutos, porque tinha estado a comentar nas partidas com a minha mulher, precisamente essa possibilidade (irra, mereço ser fustigado!).

Após uma parte inicial em área aberta, com a progressão a ser dificultada por reduzidos elementos característicos, onde me desenvencilhei dum razoável número de reentrâncias, passámos para a zona mais arborizada, contendo aqui e acolá alguma vegetação densa, para controlarmos os seis derradeiros pontos.

A prova decorria-me dentro de parâmetros aceitáveis, dado que, se em termos técnicos me estava a sair a contento, na parte física era a surpresa completa – não me recordo de correr com tanto acerto. Motivado e sentindo ainda alguma frescura, corria como um desalmado no encalço do ponto 14 (localizado nuns arbustos), quando esbarro com um prisma que deveria ser meu e não era. Caiu-me ao chão toda a adrenalina (…e mais qualquer coisa, hehe). Fiquei atónito e completamente bloqueado. Analisava o mapa, mas nem o via e apesar de andar por ali muita malta, vou ser sincero, naquele momento recusava-me a perturbar o “silêncio” – depois duma prova a roçar o irrepreensível, não seria o comportamento mais adequado (schiu!).

Depreendi, que com tanta velocidade (de veterano!), devia ter passado a minha baliza sem a ver (ori-miopia), portanto só me restava voltar para trás e tentar de novo. De tão repetitiva, esta é uma situação que me deixa com os nervos em pé, mas era a única solução. Mal me virei, ao fim duns escassos cinquenta metros, lá descortino o desgraçado “138” – tão perto…e tão longe. Sou penalizado de forma inglória com mais dois minutos. Acho que não merecia semelhante castigo, mas enfim…na Orientação é assim mesmo, a desconcentração paga-se cara.

Terminei num sprint de raiva, que vim a verificar nos “splits” estar impresso a azul (hehe), para um tempo a rondar os 42 minutos. Com este registo apenas pude confirmar o que eu já desconfiava, os treinitos que tenho vindo a efectuar estão a dar algum resultado. Pelo menos já vou dando resposta mais condigna, quando me obrigam a correr…correr muito.

Só queria tomar mais um minuto do vosso tempo, para abordar um tema a que já me referi por alto, na primeira parte. Ouvi uns “zunzuns” a criticar a pretensa facilidade dos percursos, nomeadamente os da distância longa. A ausência de relevo muito pronunciado (“pedrolas” nem vê-las), extensas áreas abertas e a existência de um autêntico rendilhado de caminhos, deixou poucas hipóteses ao responsável pelos traçados, que não podendo fazer milagres, “desenhou” os trajectos possíveis.

Agora corrijam-me se estiver errado. Tenho conhecimento que a maioria dos orientistas é oriunda do Atletismo ou pelo menos tem um “fraquinho” por corridas (a bússola é uma chatice, não é?). Sendo assim, não descortino motivo para tanto comentário, estando até convencido que a dupla jornada “caiu que nem ginjas”, no seio dos “atletas”. Pior esteve o “espécie”, que nutre um ódio de estimação pelas “cavalgadas” florestais (e não me queixo!...só em privado, hehe). Já agora, deixem de ser “enganadores” e reconheçam que adoraram estas loucas correrias da Agolada. 

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quinta-feira, 28 de março de 2024 – 08:47:12

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