Miguel Miguelé Campeão de Portugal de Velocidade Clássicos 1300 – Categoria Históricos 81 (H81) ao volante de um Austin Metro 1300 preparado pelo Projeto MOTORM e com as cores da PILOU, EZALO e PROCASA. Mas o jovem piloto de Cascais não é “apenas” campeão! Venceu 9 das 10 corridas disputadas em 2024 e não deu a menor chance aos seus adversários. Pelo caminho reclamou, ainda, vários Topc5 à geral com um carro que não se podia, nunca, comparar aos que lutarem pelas vitórias.

Aquilo que é factual está despachado, vamos ao mais interessante sobre esta participação que tem raízes há alguns anos por influência do pai de Miguel Miguel – que se chama Miguel Conrado Miguel, só para saberem – o também piloto e designer gráfico, Paulo Miguel. E como todas as boas histórias, esta também começa com “Era uma vez...”

Um apaixonado pelas corridas de Turismos em Inglaterra tantas corridas viu em vídeos e ao vivo que acabou infetado pelo vírus da paixão pelo desporto automóvel e pela sagrada Trindade gasolina, pneus e automóvel. De tal forma que quis ser piloto. Claro que os recursos eram como os lençóis da cama... tendência para serem curtos e deixar destapada a inocência do jovem aspirante a campeão.

Talvez por isso a opção foi escolher carros que conhecia dos seus tempos passados às turras com os livros e com a consciência pesada da fácil decisão de faltar às aulas para ver corridas. Foi assim que Paulo Miguel apareceu com os MG Midget e com os Austin Mini Cooper. E porque houve alguém que acreditou nele espalhou inseticida por todo o lado com o já famoso “Vai-te Embora Ó Melga!”.

Pelo caminho foi dando ao seu filho grandes quantidades de vírus “automobilus corridus” e o jovem Miguel Miguel, um dia, evidentemente, também quis ser piloto. E como diz o ditado, “quem sai aos seus não degenera” e o pirralho deu um excelente piloto. Ainda dividiram o carro, mas Paulo Miguel pegou na prancheta e nos marcadores, virou às costas ao volante e pendurou o capacete.

A paixão pelos carros britânicos que faziam o campeonato britânico de Turismos (a antes do BTCC) e as lutas espetaculares entre pilotos do Metro Challenge, inspiraram Paulo Miguel a escolher o Austin Metro. Um automóvel enjeitado – à imagem do Morris Marina – perante o qual uns desdenharam, outros levantaram a sobrancelha e um restrito grupo entusiasmou-se. Faziam parte dele o Paulo Miguel, o Miguel Miguel e a EZALO. E o racional era simples: se o carro ganha em Inglaterra, por que raio não ganharia em Portugal?

A verdade é que os primeiros tempos foram duros, mas a perseverança e a resiliência levaram a melhor com a ajuda das mãos mágicas de Pedro Silva, o preparador do motor do Austin Metro. Depois foi arregaçar as mangas e criar um dos projetos mais interessantes e que, infelizmente, poucos destacam. Miguel Miguel e um par de amigos formaram o Projeto MOTORM.

E o que é isto? É, tão simplesmente, o responsável pela manutenção e preparação do Austin Metro do Team EZALO para as corridas! É verdade, o piloto e dois amigos, mais o Paulo Miguel, estão encarregues da preparação do carro vencedor do Campeonato de Portugal de Velocidade Clássicos 1300 Categoria H81!

E fizeram isso com um enorme “staff” e todas as condições, mas apenas em sonhos! Primeiro eram os três mais a ajuda do quarto elemento. Depois, por exemplo, fizeram toda a temporada com... seis pneus! Apenas um jogo e meio de pneus para fazer 10 corridas sendo que um deles disse basta! em Portimão e acabou a derradeira corrida da época furado. Os toques, nomeadamente em Vila Real, foram uma dor de cabeça pois martelavam forte o orçamento que lá teve de esticar para que o Austin Metro não baixasse os braços.

A entrada da PILOU como patrocinador deu uma ajuda e Miguel Miguel lá conseguiu levar o levezinho (700 kg) Austin Metro com tímidos 120 a 140 cv à vitória. Um esforço hercúleo recompensado com este título que deixou uma enorme incógnita para 2025. O que fazer com este título? Será que há possibilidade de encontrar mais apoios para o Projeto MOTORM e evoluir mais o pequeno Metro?

Miguel Miguel – “Foi uma temporada absolutamente espetacular e o resultado superou as minhas expetativas. Mas foi, também, uma época muito dura e cansativa pelo duplo papel que assumi no âmbito do Projeto MOTORM. Acredito que esta é a forma certa de nos envolvermos no desporto automóvel e penso que poderemos ser uma inspiração para que outros jovens possam iniciar-se na competição. Não seguimos as tendências nem usamos as fórmulas mais fáceis, mas escolhemos um carro diferente que todos sabem qual é – seja pela cor, seja por ser único – e uma forma de estar também ela diferente. Muito satisfeito com a forma como a temporada se desenrolou e não posso deixar de agradecer a todos os que nos ajudaram e, em especial, à PILOU, à EZALO e à PROCASA que foram instrumentais para o sucesso do mal-amado Austin Metro. Provámos que é possível vencer com um carro acessível e com poucos meios. Ficamos à espera de novos apoios para evoluir o carro e o Projeto MOTORM que pode ajudar outros jovens pilotos a singrar no desporto automóvel.”