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Tendo o objetivo de debater com o associativismo desportivo um modelo renovado de desenvolvimento desportivo a Federação de Ginástica de Portugal apresenta o livro “O Desenvolvimento do Desporto: Gestão, Economia, Regulação” de Fernando Tenreiro.
O seminário de apresentação e debate da problemática do livro realiza-se no dia 20 de Setembro de 2016, na sede do Comité Olímpico de Portugal, a partir das 9,30 horas. A abertura do seminário conta com a presença do SE Juventude e Desporto, presidentes do Instituto do Desporto e Juventude, Fundação do Desporto, Comité Olímpico, Confederação do Desporto, entre outros.
O seminário destina-se aos dirigentes e técnicos das Federações e outras organizações privadas AGAP, CPCCRD, SPEF e das instituições de governo do desporto como o Comité Olímpico, a Confederação do Desporto, o Comité Paralímpico, o Instituto do Desporto e da Juventude ou a Fundação do Desporto.
O livro estrutura-se em 4 capítulos que genericamente abordam os seguintes pontos:
O I capítulo refere o Modelo de Desporto Europeu como exemplo de sucesso desportivo mundial e olímpico identificando vários submodelos agregando os países do Norte e Centro, os do Sul e os de Leste da Europa. Neste contexto Portugal ocupa um lugar menor sobre o qual importa pensar e conceber um Modelo de Desporto que permita ao país convergir para os resultados médios europeus. Este capítulo identifica as federações como a instituição fulcral do Modelo de Desporto Europeu.
O II capítulo visa compreender as condições de gestão das atividades de uma federação desportiva para obter resultados de nível europeu, mundial e olímpico. A análise identifica a complexidade da prática desportiva da população de todas as idades, segundo o sexo e as disciplinas dentro de cada modalidade. As disciplinas da ginástica demonstram essa complexidade e que são: ginástica artística feminina, ginástica artística masculina, ginástica rítmica, ginástica de trampolins, ginástica acrobática, ginástica aeróbica, ginástica para todos e a team gym. A federação tem de estar atenta à qualidade dos seus treinadores, juízes, dirigentes, a adequação das suas instalações e o quadro de investigadores e cientistas capazes de projectar a modalidade no futuro.
O III capítulo aborda a necessidade de financiamento público para o desenvolvimento sustentado das responsabilidades antes indicadas. São apresentados os princípios económicos e a sustentabilidade dos clubes e das federações na produção de desporto. A necessidade de receitas superiores às despesas na produção de desporto é um desafio que Portugal tem respondido mal, levando clubes e federações a trabalhar em condições de défice contabilístico e mais tarde a falirem ou a produzirem atividades desportivas de fraca qualidade. Perante esta realidade económica a maior parte da população portuguesa prefere não praticar desporto. Segundo os princípios indicados no capítulo o Estado tem uma ação insubstituível no desenvolvimento do desporto nacional.
Por fim, o IV capítulo realça a importância das instituições privadas e públicas a fim de garantir os melhores resultados desportivos nacionais. O capítulo debruçando-se sobre as instituições nacionais refere que “… Na ausência de boas políticas desportivas o desporto português defrontou-se com a duplicação de organizações e de instituições desportivas a vários níveis. Encontram-se exemplos de duplicação na criação de federações com atividades semelhantes e, por vezes, se juntam quando chegam os tempos de crise e há que racionalizar o uso de recursos escassos. As várias organizações privadas de topo como o COP, a CPP e a CDP consomem recursos e meios públicos e associativos sem um benefício da regulação política que tenha impactos positivos na prática desportiva da população.
A diferença entre a Europa e Portugal é a fragmentação institucional, sem utilidade desportiva, económica e social. Os resultados desportivos caíram na última década em vez de crescerem. A tendência atual é acompanhada pelo imobilismo da política desportiva. Os países do Norte e Centro europeu reforçam e melhoram as suas instituições e Portugal nunca o faz, destrói e nivela por níveis mais baixos de resultados desportivos. O modelo alemão será o mais interessante por separar o Estado do associativismo desportivo e por reforçar este último. …”
São de realçar as palavras que as personalidades do desporto referem no prefácio como sejam:
Secretário de Estado da Juventude e do Desporto
João Paulo Rebelo
“… Ressaltam do livro grandes desafios a serem ponderados pelo conjunto dos parceiros desportivos como a possibilidade do desporto nacional e do país beneficiarem da agregação de instituições desportivas tal como muitos países europeus fizeram trabalhando com menos organizações e investindo na melhoria das suas capacidades de intervenção no desporto.
Estes desafios devem ser analisados em sede própria e com as metodologias apropriadas de processos tão complexos, como os sugeridos no livro. …”
Presidente da Federação de Ginástica de Portugal
João Paulo Rocha
“… A honra associada ao facto da Ginástica ser o “estudo de caso” utilizado como ponto de partida para esta obra, é meramente acessória perante a utilidade prática que foi retirada do trabalho que fomos “obrigados” a produzir para este efeito. De facto, a verdade é que esta obra deve ser encarada não como ponto de chegada mas como um ponto de partida. Só terá o seu pleno significado se todas as outras federações reconhecerem a utilidade da reflexão sobre as questões aqui abordadas não só numa perspetiva interna mas, também, em sede de partilha de experiências entre todos. Se for possível, como espero, captar a atenção do movimento associativo português para estas questões e encontrar formas de partilha de conhecimento e reflexão conjunta aí sim, a aposta estará ganha e, inevitavelmente, estaremos em presença de um instrumento que tornará o Desporto português mais forte. A Ginástica fez a sua parte e continuará disponível para, em conjunto com os restantes atores do Desporto nacional, continuar este percurso. Estou certo de que se outros puderem ter uma visão semelhante da utilidade desta obra estaremos perante uma época muito entusiasmante do desenvolvimento do Desporto português. …”
Presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude
Augusto Fontes Baganha
“… Ficando demonstrado que o associativismo desportivo é o principal produtor de desporto é de enaltecer a iniciativa da Federação de Ginástica de Portugal de investir no seu conhecimento especializado para alcançar melhores resultados no aumento da prática pela população e nas vitórias europeias, mundiais e olímpicas que certamente, uma modalidade com os pergaminhos históricos da Ginástica aspira alcançar em benefício da população portuguesa.
A investigação no conhecimento da organização operacional da Ginástica mostra a complexidade e as especificidades da modalidade e sugere vetores estruturantes que outras modalidades com outras caraterísticas podem beneficiar igualmente.
Considerando os desafios económicos que o país e o desporto atravessam, justifica-se a preocupação de trazer, para a liderança das federações nacionais, os instrumentos que a economia possui, adequando-os às caraterísticas da produção de desporto. O benefício da oferta científica e técnica da economia permitirá certamente à federação melhorar as suas condições de trabalho com a população em todos os escalões etários, sexo e segmentos da população e, bem como, às condições de trabalho das disciplinas e da especialização do alto rendimento. …”
Presidente do Comité Olímpico de Portugal
José Manuel Constantino
“… O engenho como se libertam de grilhões do jargão económico, sem comprometer o rigor analítico, oferece ao leitor comum uma perceção clara que efetivamente o desporto vale muito mais do que aquilo que custa. A dimensão económica do voluntariado de inúmeros dirigentes e as receitas fiscais geradas a partir de incontáveis horas do seu labor está muito além do que o erário público redistribui para realimentar uma cadeia com esta capacidade e transversalidade de gerar proveitos, vantagens e benefícios.
A este propósito são várias as orientações delineadas para suprir tais condicionalismos em torno de um ciclo vicioso anquilosante. Naturalmente aproximamo-nos mais de umas do que outras, mas não deixamos de registar a oportunidade privilegiada de expor ao debate público - tendo por referência uma modalidade e uma federação desportiva concreta – que há muito se impõe em relação às opções estratégicas sobre fatores críticos determinantes para nos conduzir a patamares de desenvolvimento que aspiramos.
O desporto opera num contexto saturado de normas que na prática reconfiguram a autonomia que lhe é reconhecida na lei, sem que tal contribua para uma melhor prestação de contas dos recursos públicos administrados pelas organizações desportivas, nem tão pouco para gerarem ganhos de eficiência no desenvolvimento da prática desportiva desde a base até ao nível de elite. …”
Ex-Presidente da Federação de Motociclismo de Portugal
Jorge Pessanha Viegas
“… Por outro lado, o nosso Estado arvora-se de um intervencionismo crescente, que já não sei onde poderá parar (!), com óbvias consequências negativas tanto a nível das Federações Desportivas como da própria Administração Pública.
Hoje gasta-se mais tempo a explicar o que se vai fazer, que a fazer; dedicam-se mais recursos a explicar o que se fez que a preparar o futuro; enfim, em vez de se investir no desenvolvimento desportivo tem-se investido na burocracia…
Em resumo, a presente obra é uma excelente ferramenta e embora apresente exaustivamente apenas “uma” realidade, acaba por nos fazer refletir sobre tudo o que atrás disse, necessitando de um “segundo capítulo” mais dedicado aos desportos individuais… …”
O seminário tem 3 mesas redondas formadas por técnicos e especialistas e líderes desportivos. A primeira mesa redonda é sobre a organização das atividades desportivas, a segunda mesa redonda sobre as necessidades e características do financiamento nacional e a terceira mesa redonda foca o governo do desporto pelas suas principais instituições privadas e públicas.