>
... "muito obrigado, muito obrigado". Foram estas as palavras mais soletradas pelo escritor Joel Neto no final da apresentação do seu mais recente livro - « Jénifer ou a princesa da França» , cujo espaço reservado a leitores e amigos estava completamente lotado ,também no encontro direto com o público ,na sequência da sempre esperada sessão de autógrafos.
A tarde daquele dia , muito quente, que se tornou um pouco fria e ventosa ao anoitecer e com uma longa fila de leitores (e compradores) desta literatura, alterou a hora ideal para a entrevista já programada ao autor , pelo que esta conversa teve que ser feita via internet , e que está aqui publicada.
Recorde-se que este evento já vem sendo realizado desde o ano 1906, e com um nome pomposo de: mercado de livros ... a feira de Agosto, com assento na Praça Marquês de Pombal ainda sem monumento equestre ,agora mundialmente conhecido.
Oficialmente, e assim rezam as notícias da época, a primeira feira do livro de Lisboa foi inaugurada em 29 de maio de 1931 na Praça D. Pedro IV (Rossio) pelo então presidente da República Portuguesa , Óscar Carmona, tendo por objetivo a "propaganda da instrução e da educação pelos livros.
Para se ter uma noção da grandeza da que é hoje uma das mais bem conseguidas formas de cultura geral, aqui ficam os números ,aproximados da adesão a esta festa tão popular como imprescindível: a primeira edição deste evento contou, à partida com 15 barracas de madeira, todas iguais, com balcão e estantes, cobertos por um pano vistoso, separadas umas das outras por vasos de palmeiras e alinhadas no Rossio frente ao Teatro Nacional D. Maria Iª.
Em maio de 1940,a Feira seria transferida para a Av. da Liberdade, junto aos Restauradores, contando nessa altura já com 33 pavilhões.
A feira do Livro de Lisboa entretanto ,andou de "bolandas" desde 1944, por locais como Rossio ,Av. da Liberdade no seu quase total até à sua edição em 1979 ano em que a Câmara Municipal de Lisboa , anunciava a mudança obrigatória do local da realização do evento livreiro.
Em 1980,nas comemorações dos seus 50 anos de vida, é transferida definitivamente para o Parque Eduardo VII.
Em 1996,por motivos de obras no local acima referido, a exposição literária sairia do "Parque" temporariamente, indo parar na sempre magistral Praça do Comércio (Terreiro do Paço" tendo regressado ao "Parque" no ano seguinte , onde até hoje permanece.
A 93ª Feira do Livro de Lisboa , uma organização da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros contou com a participação de 139 associados, 980 chancelas editoriais, 340 pavilhões que originaram mais de 3000 mil eventos incluindo palestras e debates.
A 93ª Feira do Livro de Lisboa encerrou as suas "portas" no passado dia 13 de junho, " reabrindo", tudo indica, em finais de maio do próximo ano, já como sendo a sua 94ª edição .
Fica então a aguardada troca de impressões com Joel Neto
AMMA: Como surgiu a sua paixão pela escrita ?
Joel Neto: Na adolescência. Não sabia fazer mais nada senão escrever.
AMMA: Ao todo quantos livros já publicou ?
JN: Creio que são 17 ou 18. Mais as antologias, as participações especiais, etc, etc.
AMMA: Qual foi a sua intenção de escrever o livro "Jénifer ou a princesa da França”?
JN:Dar um contributo ao resgate dos Açores às mãos do desespero.
AMMA: Jénifer Armelin (é assim que começa a história) é uma garotinha aloirada e melancólica, que costuma passar as tardes, depois da escola, sentada no muro de cimento frente á sua casa onde vive. FOI UM CLIC QUE LHE DEU ?
JN: É um compósito. A soma de muitos clicks.
AMMA: A família de Jénifer vive do Rendimento Social de Inserçâo . HÁ MUITA GENTE NESTAS CONDIÇÕES NO SEU AÇORES ?
JN: Neste momento, cerca de 10% da população, mais os seus dependentes. Mas, se contarmos todas as prestações sociais e dependentes, são muitas. mais.
AMMA: Descreve no seu livro a visita á escola onde a Jénifer frequenta . COMO FOI A RECEÇÂO ?
JN: Sou sempre bem recebido quando vou às escolas.
AMMA: A dada altura da história escreve a seguinte frase : miúdos de 12 anos bebiam cerveja pela garrafa ,todos vestidos de" gangesters " ou talvez "rappers ". ISTO É HABITUAL ?
JN: Sim. Em certas comunidades, é até a regra.
AMMA: Há um parte no seu livro que poderá "chocar" o descontraído leitor, e que reza o seguinte : " a pobreza do arquipélago ultrapassa o dobro da taxa nacional e o abandono escolar o triplo . OS AÇORES ESTÃO ENTREGUES Á BICHARADA ?
JN: Na verdade, o abandono escolar agora ultrapassa o quádruplo. É 4,5 vezes superior. Os Açores estão entregues à elite açoriana, que percebeu que a pobreza é um bom negócio para ela.
AMMA: Em determinada página desta publicação podemos ler o seguinte : Aquilo que os Açores precisavam era uma revolução um advento ,no mínimo , um susto . QUER PÔR TODA A GENTE ASSUSTADA ?
JN: Pensando bem, acho que sim. O susto é um bom caminho para fora da ignorância.
AMMA: Já há algum tempo atrás tem-se verificado a crescente subida de consumidores de estupefacientes tanto mais que recentemente estes ,usam e abusam da facilidade em adquirir estas drogas sintéticas via internet. QUEM DEVIA CONTROLAR ESTA PRAGA ANDA A ASSOBIAR PARA O LADO ?
JN: Nos Açores, não precisamos comprar pela internet. Sabemos fabricá-las. 1/3 das apreensões a nível nacional, em 2021, foi feito nos Açores. E quem devia controlá-lo engana-se bem a si mesmo.
AMMA: Quase no final das 80 páginas deste interessante livro , refere um estranho pensamento : Jénifer já não passava de uma memória FICOU DESILUDIDO COM O ENREDO ?
JN: Não. Mas as pessoas como Jénifer tendem a ser esquecidas.
AMMA: Qual é o tema escolhido do seu próximo livro ?
JN: A condição humana.
Texto e Fotos: José Carlos Pinto
clique nas imagens para visualizar as fotorreportagens