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Maria Tomé, atleta de Triatlo de alta competição, ocupa o 76º lugar no ranking mundial, sendo a segunda portuguesa da tabela, estando abaixo de Melanie Santos que está na 58º posição. Neste momento corre pelo Clube de Natação de Torres Novas.
Esta atleta é estudante de Fisioterapia na Escola Superior de Saúde de Alcoitão, Cascais, zona onde reside.
O seu percurso no mundo do desporto inicia-se em criança quando por motivos de saúde foi aconselhada a praticar natação. Acaba por integrar no grupo de competição da Associação Humanitária dos Bombeiros dos Estoris (AHBE). Mais tarde inicia-se no Triatlo na mesma escola, mudando posteriormente para os Olivais e Moscavide, também com outro treinador. Rodolfo Lourenço convida a atleta para integrar o Clube Olímpico de Oeiras (COO) no final de 2017. Logo na época seguinte apurou-se para a primeira prova internacional ainda como júnior e foi também ao Campeonato da Europa de “Youth”, terminando essa época com a primeira prova Internacional de elite. Foi uma época de grandes conquistas e desafios para Maria Tomé. Ainda na pandemia, a meio de 2021 tem uma nova mudança de treinador, desta vez para Paulo Antunes na equipa do Clube de Natação de Torres Novas no grupo que treina no Jamor, Sponser Tricrew. A triatleta confidencia que foi recebida de braços abertos por todos neste novo desafio.
O currículo desta jovem desportista é muito vasto. Para além do Triatlo, em 2010 era praticante federada de Natação, em 2015 praticou Atletismo federado. O ano de 2015 fez com que experimentasse a modalidade de Pentatlo Moderno também federada e na qual fez parte da Selecção Nacional. É Atleta com Estatuto de Alta Competição em 2017/2018.
Maria Tomé conta com várias provas de elite internacionais anualmente e o seu esforço revela-se nos resultados assim como o próprio ranking internacional demonstra.
O topo é já estar incluída no Projecto Olímpico Paris 2024 na sua modalidade, o Triatlo.
AMMA: Começa a praticar desporto por indicação médica. De medida terapêutica passa a praticar por prazer chegando a este nível. Que retrospectiva faz da sua carreira?
Maria Tomé:Desde que me lembro, pratico desporto e sempre foi algo que fiz com muito gosto e me faz sentir feliz. Conseguir representar Portugal e o meu clube lá fora a fazer aquilo que gosto é algo que não se explica. Lembro-me de começar pela natação por ter um sopro no coração. Cheguei a fazer competição, mas não foi aquilo que mais gostava, e depois de experimentar uma prova de triatlo ganhei o “bichinho” pela coisa. Safava-me a correr e só tinha de ter mais “mãozinhas” na bicicleta. Comecei por fazer provas do circuito jovem e quando passei para cadete, no segundo consegui apurar-me para o campeonato da europa, fui à taça da europa de Quarteira de juniores e ainda fiz a minha primeira taça da europa como elite. Esse vai ser um ano que nunca vou esquecer. A partir daí percebi que tinha de treinar mais e melhor para chegar mais longe. E desde então que deito suor e lágrimas nos treinos, provas e dia-a-dia para ficar mais forte e evoluir.
AMMA: Para além de Triatlo também praticou Pentatlo Moderno, Atletismo, Natação e outras modalidades. Que vivências guarda de cada uma delas?
MT: A minha mãe sempre me incentivou a fazer desporto e a experimentar de tudo um pouco, para ter a certeza de qual eu me sentia mais feliz a praticar. Portanto, de todas essas modalidades que já pratiquei guardo muito boas recordações, experiências e acima de tudo amizades que fiz para a vida.
AMMA: O que a fez escolher o Triatlo entre as outras modalidades?
MT: O triatlo foi das últimas modalidades que experimentei e ao início o facto de não treinar triatlo especificamente e sentir que até “me safava” fez com que criasse um gosto maior pela modalidade. Pois, se com pouco treino era divertido, então com muito treino poderia ser ainda mais e chegar mais longe.
AMMA: A mudança de clubes e treinadores é algo que requer habituação aos métodos de cada técnico e do clube. Ao passar por várias experiências destas adaptou-se sempre rapidamente à nova realidade?
MT: As mudanças que realizei foram “crescentes” por assim dizer, visto que inicialmente o meu treino não era específico de triatlo e há medida do tempo e com as mudanças de treinadores e clubes foi passando a ser cada vez mais. Apesar disso, sou uma pessoa que gosta da rotina mas que quando sente que uma mudança é necessária está pronta para dar esse passo.
AMMA: Qual é a maior dificuldade que um atleta enfrenta para conseguir praticar uma modalidade seja como atleta de elite ou mesmo sem o ser?
MT: A meu ver, não sei se se pode chamar de dificuldade mas a disciplina e força de vontade são duas características muito importantes num atleta. Porque para acordar todos os dias, treinar e cumprir o plano de treino é preciso primeiro de tudo gostar e depois ter-se muita força de vontade e disciplina para que a preguiça e o cansaço não sejam mais fortes.
AMMA: Quando faz a primeira prova no estrangeiro em 2017 o que sentiu? Como foi chegar a outro país para competir? Teve alguma sensação estranha?
MT: Há sempre aquele nervoso que sentimos, aquelas borboletas na barriga. Mas quando chega o momento de pormos em prática aquilo que treinamos tudo se torna mais fácil.
AMMA: Os custos logísticos para competir numa prova destas são elevados. Que apoios têm?
MT: Neste momento estou inserida no projeto olímpico para os jogos de paris em 2024, e o comité olímpico de Portugal tem uma bolsa de apoio para que consigamos apurar-nos para os jogos. Para além disto, a Federação de Triatlo de Portugal acarreta as despesas das viagens e estadia para as provas de qualificação. Na Federação existem níveis de apoio e neste momento encontro-me no nível B pelo que tenho direito a 10 provas internacionais como elite por época, sendo que 3 delas podem ser fora da europa.
AMMA: Como gere o distúrbio das diferenças horárias, o conhecido “Jet lag”, principalmente em geografias com diferenças horárias mais significativas? Costuma ir para esses destinos com mais antecedência para adaptação, ou não é afectada por isso?
MT: Por norma a federação é que marca as viagens e faz a gestão da antecedência com que chegamos aos locais. Apenas o ano passado fiz provas em sítios com maiores fusos horários mas as que mais me custaram foram as em que o tempo “anda para frente”. Costumo tentar entrar no fuso durante a viagem para o destino de forma a ser mais fácil gerir os dias que se seguem até à prova.
AMMA: Tem memória de quantos países onde já competiu?
MT: Penso que consigo pesquisar sobre isso, mas lembro-me de quase todos. Portugal, Espanha, Grécia, Geórgia, Canadá, Japão, Abu Dabhi, República Checa, Bulgária, Equador, Polónia, Áustria, Inglaterra, Alemanha. Este ano vou ainda acrescentar a esta lista Nova Zelândia, Itália e França.
AMMA: Sabemos que cada região tem as suas particularidades e o Triatlo como é composto pela natação, ciclismo e corrida, em qual destas três disciplinas sente mais a diferença nessa região, seja temperatura da água, mais ou menos humidade, calor ou frio…
MT: Eu gosto mais de competir no calor do no frio, isso sem dúvida. O ano passado o campeonato da europa de elites e sub 23 distância sprint foi na Polónia e estava mais frio do que no inverno em Portugal e para além disso estava de chuva e a água do lago estava fria. Quando a água está fria tenho mais dificuldades em aquecer e o facto de estar frio no ar também não ajuda muito. Penso que foi das provas em que as condições afetaram muito a minha performance.
AMMA: Qual foi a sua prova internacional mais curiosa? Que memórias tem dela?
MT: Talvez a taça da europa de Quarteira e o campeonato da europa de elites em Munique, ambas em 2022. A primeira vai ser sempre a minha prova preferida de todo a época por ser em Portugal. Ambas têm um público único. Foram provas em que é impossível desanimar, são ambientes incríveis com todas as pessoas as puxarem por nós e a viverem todos os momentos mesmo ao nosso lado. Em Portugal, sentir o publico português a vibrar pela minha prova é fenomenal, sentir que as pessoas saíram à rua para ver um espetáculo a ser feito por nós portugueses, é um orgulho enorme que me fez sofrer e acreditar até ao fim com um sorriso na cara. No europeu, fiz o meu melhor resultado de sempre como elite apesar de uma natação não tão bem conseguida, que me ensinou muito. Tenho muito boas recordações daqueles percursos e de todas as reviravoltas.
AMMA: Como sente a responsabilidade de ter a posição que ocupa no ranking internacional de Triatlo e a luta constante para o subir?
MT: É uma responsabilidade enorme, mas ao mesmo tempo só eu, o meu treinador e grupo de treino sabemos aquilo que dei, dou e vou continuar a dar em treino para preparar este caminho e lutar. Desde que me sinta feliz a percorrê-lo penso que o mais importante é aproveitar todos os momentos e disfrutar.
AMMA: Faz parte do Projecto Olímpico Paris 2024 no Triatlo. Como está a correr essa preparação? Têm tido algum tipo de treino ou preparação diferenciado? Como se sente na possibilidade de representar Portugal em Paris nos Jogos Olímpicos?
MT: A preparação começa no momento em que souber que me qualifiquei e para isso tem sido feito um trabalho diário para que esse sonho se possa tornar realidade. Quando tiver essa certeza acho que aí será aberta uma nova porta no meu caminho que me fará, se calhar, ver as coisas de outra forma e “cair” na realidade. Até lá tento encarar este percurso treino a treino, prova a prova, experiência a experiência, e dar o melhor de mim sempre para o tornar realidade.
AMMA: Como atleta de elite, teve muito trabalho e dedicação para chegar a este resultado. Que mensagem gostaria de deixar aos mais novos que ainda se estão a decidir por uma modalidade ou mesmo que sonhem chegar um dia a atleta de elite?
MT: O meu lema é “o que importa é ser feliz” e desde que todos façam aquilo que gostam, e sejam felizes, isso é o mais importante! Sigam sempre os vossos sonhos e nunca deixem que as pedras do caminho vos façam desistir.
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: cedidas por Maria Tomé